Semiárido em risco: como a desertificação ameaça a Caatinga



A desertificação avança no semiárido, provocando danos ao solo e à biodiversidade. Com ações integradas, a Associação Caatinga trabalha para recuperar a Caatinga e garantir um futuro sustentável.

A desertificação é um dos maiores desafios ambientais enfrentados pelo semiárido brasileiro, em especial pelo bioma Caatinga. Enquanto a estiagem é um fenômeno natural marcado por um período com pouca chuva — comum na região e que permite que a vegetação perca temporariamente suas folhas para economizar água —, e a seca representa uma ausência prolongada de chuvas, com impactos severos na agricultura e no abastecimento de água, a desertificação vai além: é a degradação permanente do solo, que perde sua fertilidade e passa a se assemelhar a um deserto. Esse processo ocorre quando a ação humana ultrapassa os limites da natureza, exaurindo os recursos naturais e comprometendo sua regeneração.

Segundo dados do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), aproximadamente 126 mil km² da Caatinga já estão em processo avançado de desertificação — uma área equivalente a todo o estado do Ceará. As regiões mais afetadas, conhecidas como núcleos de desertificação, incluem municípios e microrregiões como Irauçuba, Médio Jaguaribe e Sertão dos Inhamuns (CE), Seridó (RN/PB), Cariris Velhos e Cabrobó (PE), Gilbués (PI), Sertão do São Francisco, Chorrochó e Abaré (BA).

As principais causas desse processo estão ligadas ao uso insustentável da terra, com destaque para práticas como produção de pastagens sem manejo adequado, pecuária extensiva, irrigação irregular, mineração predatória e desastres naturais agravados por ações humanas. O resultado é um solo empobrecido, menos produtivo e incapaz de sustentar a biodiversidade e a economia local.

Para enfrentar os desafios ambientais e sociais do semiárido, a Associação Caatinga adota uma abordagem integrada e de longo prazo, desenvolvendo soluções que aliam a conservação ambiental à inclusão social e ao fortalecimento da resiliência das comunidades locais. Suas ações estão organizadas em sete linhas estratégicas principais. A primeira é a criação e gestão de áreas protegidas, com a implementação de unidades de conservação públicas e privadas que atuam como barreiras contra a degradação ambiental. 

A segunda linha envolve a restauração florestal, promovendo a recuperação de áreas degradadas por meio do plantio de espécies nativas da Caatinga. A terceira trata das tecnologias socioambientais, como cisternas e fogões ecológicos, que auxiliam as famílias a conviver melhor com o semiárido e contribuem para a redução da pressão sobre os recursos naturais. A quarta linha estratégica é a educação ambiental, com ações formativas voltadas para estudantes, agricultores e comunidades, estimulando práticas sustentáveis. 

O fomento à pesquisa constitui a quinta linha, incentivando a produção de conhecimento científico sobre o bioma e o desenvolvimento de soluções inovadoras para combater a desertificação. A sexta linha refere-se à atuação em políticas públicas ambientais, promovendo a articulação para a criação e implementação de leis e programas voltados à conservação da Caatinga. Por fim, a comunicação completa as sete linhas estratégicas, com campanhas de sensibilização que buscam informar e mobilizar a sociedade sobre a gravidade da desertificação e a urgência de práticas sustentáveis no uso da terra.

“O que fazemos na Associação Caatinga é construir um futuro para o semiárido brasileiro. Nosso compromisso é com a proteção de um bioma único e com as pessoas que dependem dele para viver. Cada ação que realizamos — seja restaurando áreas degradadas, promovendo tecnologias que ajudam na convivência com o semiárido ou formando jovens e agricultores — é parte de uma estratégia mais ampla para combater a desertificação, reduzir desigualdades e promover justiça climática. A Caatinga é rica em biodiversidade, saberes e possibilidades. Preservá-la é um dever ético, ambiental e social que exige soluções de curto, médio e longo prazo, construídas com e para as comunidades que a habitam”, destaca Samuel Portela, coordenador de Conservação da Biodiversidade da Associação Caatinga. 

Sobre a Associação Caatinga 

A Associação Caatinga é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja missão é conservar a Caatinga, difundir suas riquezas e inspirar as pessoas a cuidar da natureza. Desde 1998, atua na proteção da Caatinga e no fomento ao desenvolvimento local sustentável, incrementando a resiliência de comunidades rurais à semiaridez e aos efeitos do aquecimento global.

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