Setembro Amarelo na magistratura



Hercy Ponde de Alencar - Presidente da Associação Cearense de Magistrados

A cada ano, cresce o número de brasileiros que enfrentam transtornos como ansiedade, depressão e síndrome de burnout, e os números mais recentes são alarmantes. Apenas em 2024, segundo dados do Ministério da Previdência Social, quase meio milhão de trabalhadores foram afastados de suas funções por problemas relacionados à saúde mental, o maior índice da última década. Por isso, a campanha de prevenção ao suicídio do Setembro Amarelo, que agora tornou-se oficial com a sanção da Lei 15.199 de 2025, é indispensável.

Esse cenário, contudo, não afeta apenas a iniciativa privada ou setores tradicionalmente conhecidos pela alta pressão. Dentro do próprio sistema de Justiça, a situação é grave. A I Pesquisa Diagnóstica da Magistratura do Estado do Ceará revelou que 78% dos juízes cearenses afirmam sofrer com estados emocionais adversos. Ansiedade e depressão se tornaram presenças constantes na rotina de magistrados que, diariamente, lidam com sobrecarga, pressão e responsabilidades que vão muito além da esfera profissional.

É preciso reconhecer que esse adoecimento não ocorre por acaso. O aumento expressivo no número de processos contrasta com a estagnação e, em alguns casos, com o sucateamento da estrutura do Judiciário. Isso cria um ciclo perverso: mais demandas, menos recursos, mais pressão e, inevitavelmente, mais desgaste emocional. Essa sobrecarga não prejudica apenas os magistrados; ela impacta toda a sociedade, pois compromete a qualidade e a agilidade da prestação jurisdicional.

Falar sobre saúde mental na magistratura não é um luxo, mas uma necessidade. É hora de romper o silêncio, enfrentar o estigma e cobrar políticas de valorização e proteção para quem sustenta uma das funções mais essenciais do Estado. Cuidar da saúde dos juízes significa, também, cuidar do próprio sistema de Justiça e, consequentemente, da população que dele depende.

O Setembro Amarelo nos lembra de algo essencial: todas as vidas importam. Valorizar a vida é, também, valorizar quem trabalha para garantir direitos e justiça. Não podemos mais adiar essa conversa.
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