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O fim do ano costuma intensificar uma sensação de cansaço que vai muito além da fadiga corporal. Para muitas pessoas, dezembro chega acompanhado de um esgotamento emocional acumulado ao longo dos meses, impulsionado por cobranças profissionais, expectativas não cumpridas, excesso de responsabilidades e pela pressão social de “fechar o ano bem”. Esse desgaste mental contínuo acaba se manifestando no corpo, especialmente em forma de tensão muscular, dores nas costas, nos ombros e na nuca, além de uma sensação constante de peso e rigidez.
Um levantamento da International Stress Management Association (Isma) aponta que cerca de 80% das pessoas economicamente ativas apresentam níveis mais elevados de estresse, ansiedade e até sintomas de depressão no final do ano. O fenômeno, popularmente conhecido como Síndrome do Final do Ano ou “dezembrite”, está diretamente relacionado à autocobrança e à melancolia típica dos ciclos que se encerram. O balanço do que foi planejado e não realizado, somado a uma agenda intensa de confraternizações, viagens e compromissos, costuma gerar frustração e sobrecarga emocional.
De acordo com o psicólogo e coordenador de Psicologia da Wyden, Miguel Lessa, o mês de dezembro é marcado por uma espécie de prestação de contas pessoal. “É o momento em que nós avaliamos tudo o que planejamos ao longo do ano. Quando essas metas não são alcançadas, surgem sentimentos de frustração e culpa. Ao mesmo tempo, é um período de muitas festas e encontros, em que socialmente somos cobrados a estar felizes, alegres e disponíveis. Isso gera uma luta interna constante entre o que sentimos e o que precisamos demonstrar”, explica.
Esse conflito emocional, segundo o especialista, contribui diretamente para o aumento da ansiedade, especialmente nos momentos que antecedem confraternizações e eventos sociais. “Mesmo em situações que deveriam ser leves e prazerosas, a pessoa carrega preocupações com o futuro, com o próximo ano e com metas que ficaram pendentes, o que intensifica o desgaste emocional”, completa.
Além do impacto psicológico, o corpo também sente os efeitos desse acúmulo de demandas. Miguel Lessa explica que o cansaço intenso e o peso nas costas, comuns nessa época, não estão necessariamente ligados ao esforço físico. “Todas as atividades ficam concentradas em um único mês. São relatórios no trabalho, encerramento das atividades escolares dos filhos, confraternizações profissionais e familiares, além do planejamento de datas como Natal e Réveillon. O cérebro não desliga, permanece em estado constante de alerta e planejamento, o que gera um cansaço mental e emocional muito grande”, afirma.
Do ponto de vista da psicologia, essa sobrecarga se reflete diretamente no organismo. “O corpo reage ao estresse e à ansiedade. A postura muda, a respiração fica mais curta e os músculos se tornam mais rígidos, especialmente os do pescoço e dos ombros, que sustentam uma postura de atenção e preparo constante. É como se o corpo estivesse o tempo todo pronto para reagir às demandas”, explica o psicólogo.
Para aliviar esse peso emocional antes da chegada do novo ano, o especialista reforça a importância de estabelecer limites e praticar a autocompaixão. “Não é preciso participar de todas as confraternizações. É fundamental aceitar aquilo que não foi possível realizar durante o ano e planejar novamente, sem culpa. Descansar não é improdutivo, é necessário. Esse momento deve ser visto como um tempo de cuidado consigo mesmo”, orienta.
Miguel Lessa destaca ainda que buscar ajuda profissional é essencial quando o sofrimento começa a comprometer a qualidade de vida. “Se a pessoa não consegue aproveitar momentos de lazer, se permanece estressada mesmo em situações de descanso ou passa a se isolar, é um sinal de alerta. Nesses casos, procurar um profissional de saúde mental é um passo importante para atravessar esse período de forma mais saudável”, conclui.

