Cirurgião plástico explica sobre cuidados, indicações e riscos com implantes de mama





 Médico Renan Gil orienta sobre quando a cirurgia é indicada ou contraindicada


O implante mamário com silicone é o segundo procedimento estético cirúrgico mais realizado no Brasil, ficando atrás apenas da lipoaspiração, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Procurada tanto por mulheres que desejam aumentar o volume das mamas quanto por pacientes que passaram por reconstrução após câncer, o procedimento exige atenção a cuidados, indicações e riscos.


De acordo com o cirurgião plástico Renan Gil, ele pode ser realizado a partir dos 16 anos, desde que haja consentimento dos pais, ou a partir dos 18, por decisão da própria paciente.


“A gente recomenda que o uso do implante de silicone pode acontecer para todas as mulheres que desejam um aumento mamário ou em casos de reconstrução. A idade geralmente é a partir dos 16 anos, quando a mama já se consolidou. Entre 16 e 18, é necessário o consentimento dos pais, e a partir dos 18 anos passa a ser apenas do desejo da paciente colocar a prótese”, explica o especialista.


Há, no entanto, situações em que o uso da prótese é contraindicado. Segundo Gil, mulheres grávidas ou em fase de amamentação devem esperar pelo menos seis meses após o término da amamentação para considerar a cirurgia. Ele também destaca que pacientes com doenças autoimunes precisam de atenção especial.


“Sempre contraindicamos, por exemplo, para pacientes que estão grávidas ou amamentando. O ideal é aguardar esse intervalo de seis meses. Outra situação é no caso das doenças autoimunes, especialmente quando estão descompensadas. Apesar de a prótese ser um material inerte, ela pode ativar fatores do sistema imune e agravar o quadro da paciente. Nessas situações, muitas vezes não recomendamos a colocação”, ressalta.


Durante muito tempo, acreditava-se que a prótese de silicone tinha prazo de validade de 10 anos. Essa regra, no entanto, já não se aplica às gerações mais recentes de implantes. O tempo de permanência dependerá das condições clínicas e do desejo estético da mulher.


“Antigamente havia aquela ideia de que precisava trocar a prótese a cada 10 anos, mas hoje não existe mais essa necessidade. Vai depender muito da fase de vida da paciente e do resultado que ela deseja. Muitas vezes, a troca acontece porque a mama caiu com o tempo, ou porque a paciente quer aumentar ou reduzir o volume. A decisão está muito mais ligada ao desejo da paciente do que a uma validade fixa da prótese”, pontua o cirurgião.


Entre as indicações mais comuns estão o aumento estético das mamas, as cirurgias de mastopexia, que consistem no levantamento com prótese para dar maior projeção ao colo, e as reconstruções após câncer de mama. Nesse último caso, muitas vezes é preciso utilizar expansores antes da prótese definitiva.


“Os procedimentos com prótese de silicone podem ser basicamente de três tipos: o aumento mamário simples, o levantamento associado à prótese para dar mais projeção e, por fim, a reconstrução em pacientes que passaram por câncer de mama. Em alguns casos, usamos expansores que vão esticando a pele aos poucos até chegar no tamanho adequado para, então, colocar a prótese definitiva”, detalha Gil.


Como toda cirurgia, o implante de silicone apresenta riscos, ainda que os cuidados adequados minimizem as chances de complicações. Infecção, acúmulo de líquido e abertura dos pontos estão entre os problemas possíveis.


“Mesmo com todos os cuidados, podem ocorrer complicações, como infecção, acúmulo de líquido ou abertura dos pontos. Para reduzir esses riscos, é fundamental escolher um profissional habilitado, realizar todos os exames pré-operatórios e seguir rigorosamente as orientações no pós-operatório. O acompanhamento multiprofissional, com fisioterapia, também acelera a recuperação”, alerta o especialista.


No pré-operatório, o médico reforça a importância de informar corretamente o histórico de saúde, uso de medicamentos e hábitos como o tabagismo. Já no pós-operatório, os cuidados vão desde o uso do sutiã cirúrgico até restrições na hora de dormir.


“No pré-operatório, a paciente deve informar todo seu histórico de saúde, uso de anticoncepcionais e se fuma, porque esses fatores podem aumentar os riscos de complicações. Já no pós-operatório, orientamos dormir sempre de barriga para cima, usar o sutiã cirúrgico nos primeiros 30 dias, evitar carregar peso e não deitar de lado ou de bruços por pelo menos 60 dias. Muitas vezes a pele já cicatrizou por fora, mas por dentro o processo ainda está acontecendo, e isso exige cuidado”, explica Gil.


Uma complicação tardia possível é a contratura capsular, quando o corpo forma uma cápsula de tecido em torno da prótese, que pode endurecer e deformar a mama.


“Toda prótese inserida no organismo gera uma cápsula em volta. Com o tempo, essa cápsula pode se contrair, provocando a chamada contratura capsular. Nos casos leves, não traz grandes alterações, mas nos graus mais avançados pode causar deformidade visível. Nessa situação, indicamos a retirada da prótese e dessa cápsula, podendo até mudar o plano de colocação, seja acima ou abaixo da musculatura, caso a paciente deseje manter o implante”, conclui.


Síndrome ASIA


Além desses riscos já conhecidos, o cirurgião chama atenção para uma condição ainda em estudo, conhecida como Síndrome ASIA, uma inflamação induzida por adjuvantes que pode incluir o silicone.


“Uma outra situação que acho importante comentar é sobre a chamada Síndrome ASIA, que é um acrônimo em inglês para uma inflamação induzida por algum adjuvante, e a prótese de silicone pode estar relacionada. Ela é caracterizada por sintomas como dores crônicas, queda de cabelo, alterações de memória e até quadros depressivos. No entanto, ainda não existe um exame específico para diagnóstico, e a síndrome permanece em fase de estudo para comprovação científica”, explica Renan Gil.


Linfoma Anaplásico de Grandes Células (LACG)


Outra doença, esta já cientificamente comprovada, é o Linfoma Anaplásico de Grandes Células (LACG) associado a implantes mamários. Trata-se de um tipo raro de linfoma que pode surgir na cápsula formada ao redor da prótese, como consequência de um processo inflamatório crônico.


“Esse, sim, tem comprovação científica, embora seja extremamente raro. Acontece quando a cápsula ao redor da prótese mantém um processo inflamatório que pode evoluir para o linfoma. Geralmente, os sinais aparecem em média oito anos após a cirurgia, e um dos indícios é o aumento do volume da mama”, conclui o cirurgião.


O acompanhamento médico periódico é fundamental. O médico orienta que o rastreamento seja feito, principalmente, por ultrassom de mama e, caso haja alguma alteração, pode ser solicitada uma ressonância magnética para investigação mais detalhada.

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